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Cadernos de Percurso



CADERNOS DE PERCURSO

Os cadernos de anotações são muito importantes em minha prática artística, e carinhosamente são chamados de Cadernos de Percursos, neles registros de toda ordem são realizados: textos, citações, fotos, desenhos, anotações soltas, relatos de experiências, notas sobre os lugares investigados e seus entornos. Enfim, informações que permitem: a produção de trabalhos artísticos, a redefinição do espaço desconhecido como um lugar significativo e ressignificado. São instrumentos cruciais para pensar o meu trabalho a partir de experiências de vida e do fazer artístico sobretudo nas diversas caminhadas que realizei pela cidade, pensando no andar como um instrumento estético.

Anne Cauquelin faz referência ao diário de viagem, sua importância para articular pensamentos relativos a construção do espaço enquanto se faz o percurso:

O diário de viagem atesta o passeio, o encaminhamento. Balizas, marcos indicam o percurso: o espaço se constrói proporcionalmente à obra. O espaço não preexiste ao uso que refaz dele; é, o contrário, o uso que define o lugar como lugar, que tira o espaço de sua neutralidade ‘natural’ para artificializá-lo. (Anne Cauquelin).

Os cadernos de percurso, em meu trajeto poético, são entendidos como contentores de memórias vividas, de momentos específicos. São registros feitos com o intuito de não perder, manter a recordação e a lembrança do viver. Lembro-me, esqueço-me, relembro-me, na presença e na ausência. O lembrar e o esquecer, são ações que ajudam a tecer a memória. Pode-se pensar na memória artística e individual e a sua busca não, somente pelos meios utilizados para armazenar as informações, como dados ou registros, mas também pensá-la como uma vontade poética, o querer construir um “glossário de sentimentos” (ASSMAN, 2003, p. 26), no qual pode-se ver a poesia do fazer. E ao fazer, cria-se, recria-se, vive-se e revive-se. O passado regressa, a memória se restabelece de maneira diferente a cada vez que retorno a um caderno de percurso. E este ato, faço com frequência, volto a um dos cadernos mais antigos, relembro situações, revejo ideias e possibilidades. Muitas vezes, mesclo anotações antigas com as novas e os conteúdos se amalgamam. Novas formas e conteúdos aparecem neste caminhar, e neste sentido criam-se novos relatos, espaços e fazeres.





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